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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre a fenomenologia

            
            A palavra fenomenologia tem sua origem etimológica no grego phainesthai, que significa “aquilo que se apresenta”, “que se mostra”. Enquanto corrente filosófica e método científico, seu objeto de estudo se concentra nas essências dos fenômenos e deve seu surgimento ao matemático e suíço-alemão Johann Heinrich Lambert (1728-1777). Entretanto, foi com Edmund Husserl, a quem coube o título de “pai da fenomenologia”, que o método fenomenológico se construiu de forma mais consistente, passando a influenciar as mais diversas áreas do conhecimento.
            A filosofia husserliana se desenvolve, inicialmente, a partir da crítica ao psicologismo. Segundo essa corrente, os problemas relacionados à validade do conhecimento humano poderiam ser resolvidos por meios estritamente psicológicos. A lógica seria apenas uma espécie de ciência normativa dos atos psíquicos, mas não uma fonte da verdade. A intenção de Husserl, entretanto, era construir uma ciência rigorosa que não estivesse sujeita à instabilidade da ciência, com suas verdades provisórias. Assim, a questão que Husserl colocou não foi mais sobre a existência do mundo, mas, por outro lado, como o conhecimento do mundo se daria na consciência do indivíduo.
            Notadamente, essa reformulação sofre uma grande influência do conceito de intencionalidade, de Franz Brentano. Para Brentano, a consciência seria sempre caracterizada pela intencionalidade, por ser sempre consciência de algo, isto é, dependente de um objeto. Dessa maneira, a descrição de atos mentais envolveria a descrição dos próprios objetos, porém, apenas enquanto fenômenos, sem a obrigatoriedade de se afirmar sua existência no mundo empírico.
            Com a identificação do objeto da percepção, a próxima etapa seria sua análise com vistas a encontrar seu significado. A redução eidética, como ficou conhecido esse processo, é importante pois ninguém é capaz de “ver as coisas como elas são”, mas, antes, o conhecimento se dá através da conjunção entre os dados sensíveis e a subjetividade presente na consciência cognoscente. Entretanto, a simples idealização do objeto na consciência não garante o acesso a sua essência; é preciso que se chegue a uma base comum entre a experiência do indivíduo e a experiência dos outros. Somente essa essência compartilhada poderia fornecer à fenomenologia o caráter apodídico que ela reivindicava enquanto ciência.
            A apreensão das essências, do modo como Husserl descreve, dar-se-ia por meio da intuição (Wesensschau). Para ele, mesmo mantendo-se a multiplicidade presente nas mais variadas experiências, seria possível uma espécie de isolamento daquilo que permanece imutável em meio à multiplicidade. Sua própria definição de fenomenologia se dá em termos de um retorno à intuição e à percepção da essência. A ênfase sobre a intuição não é aleatória, mas busca refutar toda abordagem meramente especulativa da filosofia.
            Por fim, pode-se dizer que a fenomenologia é, antes de tudo, uma atitude. Segundo o conceito de epoché, desenvolvido por Husserl, a atitude natural diante do mundo deveria ser posta entre parênteses, viabilizando, dessa maneira, o acesso ao fenômeno da forma como ele se apresenta. Assim, apesar de já ter tido sua pretensão de neutralidade de pressupostos refutada, não é por acaso que a fenomenologia tem sido estudada pelas mais diferentes áreas da ciência, visto que, de fato, é uma filosofia que propõe um olhar menos arrogante em relação à realidade.



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