
Percebo que lateja em mim uma paixão constante. Com ela tenho passado pela cadeia dos momentos que formaram as minhas horas, dias, meses e anos. Disse minhas, fazendo alusão ao tempo, pois cada pessoa tem o seu tempo. E os mais felizes são os que sabem que o tempo é nosso, não de Deus. O tempo é dádiva divina aos mortais. É essa paixão de viver que me dá esse fortíssimo sentimento de que o tempo é meu. Mesmo me vendo como um cristão que crê na imortalidade da existência espiritual, ainda assim trato esta dimensão como única, pois ela vai acabar. Ainda que eu viva para sempre, vou morrer, contigencialmente, como cidadão da Terra, daí minha sôfrega paixão pela experiência consciente que Deus me deu conhecer neste lapso de existência cósmica.
É a vida movida por paixão o que nos arremete ao mundo como uma dádiva divina, mesmo no dia dos nossos equívocos. É também esta paixão que nos põe no único espaço onde o medo de existir se desvanece: o chão do amor. Quando se chega a esse lugar existencial, percebe-se que dele se pode ver o perigo de existir , mas descobre-se também que nele a vida não conhece infelicidade, mesmo quando dói, pois nesse lugar a vida é pura celebração, vez que o verdadeiro amor nos liberta de toda culpa e nos põe a salvo de todo medo.
Eu sei que viver assim é fascinantemente assustador para os que assistem a vida em seus processos. Dessa forma, coletam-se amores, devoções, imitadores e patrocinadores. Mas também surgem os aduladores, os traidores, os invejosos, os inimigos gratuitos de toda liberdade conquistada pelo amor e pela graça. É neste ponto da existência que eu me sinto hoje. A tentação agora é fazer opção por um dos lados. Se me dedico aos primeiros, vivo para a mediocridade que se alimenta de fantasias. Se me entrego ao segundo grupo, passo a existir para manter um poder que não me foi dado pela força, mas pela graça do amor e que pode sutilmente se converter em poder satânico, que é aquele que existe para se proteger e para exercer controle, fruto do medo de perder o que tem.
Prefiro morrer hoje a me entregar a qualquer desses dois grupos. Meu compromisso com minha própria consciência é o de perseguir novas possibilidades de ser em Deus, pois de uma coisa estou certo: bondade e misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
Sou feliz, mesmo quando não estou feliz. Afinal, depois de tudo, eu pude perceber que felicidade só existe como a possibilidade de ser, a cada dia, em Deus e em seu amor. Assim, sem escusas, eu confesso quem sou."
Caio Fábio
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