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sexta-feira, 20 de abril de 2012

FÉ E RAZÃO NA IDADE MÉDIA: UM BREVE ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE AQUINO





I – Introdução:

            Não há período da história da filosofia mais injustiçado do que a Idade Média. Com o advento do Iluminismo, quando ganhou força a idéia de uma razão pretensamente autônoma, o período medieval passou a ser tratado, do ponto de vista moderno, de forma bastante pejorativa, sendo identificado como o “período das trevas”, momento em que nenhuma, ou quase nenhuma, produção intelectual teria se desenvolvido. Entretanto, nada mais falacioso do que isso. Somente quem nunca se debruçou, ainda que superficialmente, sobre a filosofia dessa época e despreza completamente a história do pensamento ocidental seria capaz de, conscientemente, fazer afirmações dessa natureza.
            Para desfazer esse mito, este trabalho tenciona introduzir, de forma breve e panorâmica, o pensamento dos dois principais filósofos medievais: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. A discussão se pautará na questão do problema do conhecimento, buscando-se estabelecer a relação entre fé e razão contida nas obras dos dois pensadores. Inicialmente, será feita uma abordagem particular de cada autor e em seguida uma comparação de suas principais idéias. Para isso, buscar-se-á não somente destacar as semelhanças e diferenças de suas filosofias, mas também analisar alguns fatores que influenciaram na passagem de um pensamento ao outro no interior da própria Idade Média, assim como suas influências posteriores.


II – Santo Agostinho:

            Compreender a filosofia de Santo Agostinho, em certo sentido, é compreender sua própria trajetória de vida. Seu despertar intelectual tem início com a leitura de Hortênsius, de Cícero, onde descobre o amor pela sabedoria e passa a se dedicar à busca da verdade. Nesse caminho, Agostinho entra em contato com os maniqueístas e, seduzido pela proposta de uma explicação puramente racional para o mundo e, em especial, de uma justificação da existência do mal, acaba por aderir à seita. Todavia, com suas expectativas frustradas e percebendo que a verdade que tanto desejava nunca chegaria dessa forma, prossegue em sua busca e, em Milão, ouvindo as pregações de Ambrósio, nelas descobre “a existência do sentido espiritual escondido sob o sentido literal da Escritura” (GILSON, 2001, p. 143) [1]. Mas, de fato, sua alma ainda não estava saciada. A leitura de alguns escritos neoplatônicos, especialmente Enéadas, de Plotino, teve um papel importante nesse momento, pois, através deles, Agostinho tem seu primeiro encontro com a metafísica e, finalmente, consegue libertar-se do materialismo. Entretanto, tentando purificar-se e viver em coerência com o que havia conhecido, percebe-se totalmente incapaz de fazê-lo. Foi só então, com a leitura da carta de Paulo aos Romanos, que Agostinho entende que “o homem é presa do pecado e que ninguém pode libertar-se dele sem a graça de Jesus Cristo” (Ibidem, p. 143). Finalmente, sua alma encontra descanso.
            Todo esse desenrolar do pensamento agostiniano se torna extremamente importante na análise do problema do conhecimento, visto que é a partir dessa experiência mística pessoal, respaldada pelas Escrituras, que Agostinho erigirá sua Teoria da Iluminação. Para ele, fé e razão encontram-se numa relação dialética, que pode ser sintetizada na célebre frase: intellige ut credas, crede ut intelligas (compreender para crer, crer para compreender). “A fé não destrói os direitos da razão, mas a cura, a renova, a purifica, a revigora, tornando assim possível o movimento teológico da razão, isto é, a inteligência da fé” (SANTOS, 1996, p.15) [2]. Assim, é possível afirmar que “Cristo é o princípio de coerência da doutrina agostiniana: Ele é, na ordem ontológica, Criador e Salvador, e, na ordem epistemológica, fundamento da fé e da inteligência.” (Ibidem, p.10).
           
III – São Tomás de Aquino:

            Diferentemente de Santo Agostinho, São Tomás de Aquino desenvolve um pensamento altamente sistematizado. “Numa época em que os pensadores cristãos voltavam a descobrir os tesouros da filosofia antiga, e mais diretamente da filosofia aristotélica, ele teve o grande mérito de colocar em primeiro lugar a harmonia que existe entre a razão e a fé.” [3].
            Tomás parte do princípio de que, sendo tanto a razão quanto a fé provenientes de Deus, não pode haver contradição entre elas. Para sustentar essa posição, baseado no sistema aristotélico, ele eliminará a doutrina da iluminação de Agostinho e estabelecerá uma distinção entre duas ordens: a natural e a sobrenatural. Seguindo esse caminho, o Doutor Angélico consegue associar as noções de conhecimento e demonstração racional, de ciência e de filosofia à ideia de procedimentos lógicos de princípios evidentes que levam a conclusões inteligíveis. Assim sendo,

“A fé pertence à verdade baseada na autoridade da revelação divina, na qual acreditava toda a Escolástica, enquanto doutrina ajustada pela Igreja. Não é, pois, um conhecimento pela evidência intrínseca. Para São Tomás de Aquino, o conhecimento se faz pela presença do objeto, presença que se pode revelar extrinsecamente pela via de uma afirmação de autoridade, ou se revelar intrinsecamente pela manifestação direta do mesmo objeto. A fé e a razão podem coincidir no objeto, não no modo de descobri-lo.
Assim, a teologia natural trata de Deus pela via da razão e a teologia sobrenatural pela via do que foi revelado. Coincidem no gênero, divergem na espécie. Uma vez colocada a ratio na teologia apenas sobre a autoridade de quem revela, São Tomás pôde afirmar: ‘toda ciência procede de princípios por si evidentes, ao passo que procede a doutrina sagrada dos artigos da fé, evidentes em si... ’ (S.T. I, q.2, a.2,9). ‘Cumpre saber que há dois gêneros de ciência: um parte de princípios conhecidos à luz natural do intelecto, outro provém de princípios conhecidos por ciência superior... Desse modo, é ciência a doutrina sagrada, pois deriva de princípios conhecidos à luz de uma ciência superior, a saber, a de Deus e dos Santos’ (S.T. I, q.1, a.2, c).” (ADRIANO, 2009, p. 3) [4].

               Fica claro, dessa maneira, que, no pensamento tomista, fé e razão são procedimentos cognoscitivos totalmente diferentes. Enquanto a primeira baseia sua autoridade na Palavra de Deus, a segunda tem nas evidências intrínsecas a força de sua verdade. A separação teve consequências importantíssimas e, de fato, representou um ponto-chave do pensamento ocidental.

“Com essa distinção metodológica entre saber filosófico e científico de uma parte e saber teológico de outra parte e a implícita afirmação da autonomia da Filosofia no confronto com a Teologia, São Tomás iniciou o processo de secularização do saber humano, contribuindo para o desenvolvimento das ciências experimentais e das ciências humanas.” (Ibidem, p. 3).

            Contudo, apesar de distintas, fé e razão não são irreconciliáveis na filosofia tomista. Pelo contrário. Isso se torna possível porque, embora Tomás as considere de forma autônoma, não lhes atribui o mesmo peso. A fé recebe a supremacia sobre a razão e deve, em última instância, julgá-la. Como observa Adriano (2009):

“Embora as verdades racionais sejam autônomas, buscá-las será principalmente uma questão de revelação. É ela, a fé, que aponta a Verdade Primeira, e para ela se sente atraída. Portanto, à medida que esses princípios religiosos podem receber um tratamento racional, podemos argumentar a favor dos mesmos. Quanto ao resto, deve ser somente objeto de revelação. Mesmo quando se pede ajuda à razão, será ainda a revelação que se firmará como critério último e definitivo de verdade no conhecimento.” (Ibidem, p. 5).

IV – A virada no pensamento medieval: de Agostinho a Tomás:

            Durante a maior parte da Idade Média, o pensamento predominante foi agostiniano. É somente a partir de São Tomás de Aquino que a Teoria da Iluminação é deixada de lado e desencadeia-se uma série de profundas conseqüências nas filosofias subseqüentes. Torna-se necessário, portanto, discutir os motivos que teriam levado Tomás a essa ruptura com o pensamento de seu antecessor.
            Segundo Gilson (2010) [5], há “pouca razão para que o agostinismo precisasse ser posto em cheque, dentro do próprio cristianismo, a não ser que sua sorte tenha sido encontrada ligada pelas circunstâncias à sorte de uma filosofia não cristã, que o conduziu a sua própria condenação”. (GILSON, 2010, p. 7).
            Um olhar atento sobre a história do pensamento nesse período corrobora essa hipótese. A filosofia de Avicena e a possibilidade de pontos de contato desta com a filosofia agostiniana parecem ter tido influência fundamental na forma como Tomás de Aquino conduziu a questão.
            De forma bastante resumida, é possível afirmar que a crítica tomista ao pensamento muçulmano e, em especial, à síntese deste com o agostinianismo se concentrava no problema da não aceitação da existência de uma natureza interposta entre os fenômenos e a vontade do Criador. Para Tomás,

“uma filosofia que rejeita toda ação própria às causas segundas, sobretudo corporais, para reservar somente a Deus toda eficácia, entra em contradição com o testemunho mais do que evidente dos sentidos. Com efeito, Deus é imutável, o que todo mundo aceita; portanto, não é em seu ser que se pode encontrar a origem da diversidade que percebemos na operação das coisas. Ora, se supusermos que não haja naturezas de formas diferentes, interpostas entre a operação imutável pela qual Deus age nas coisas e os efeitos produzidos por ela, não veremos nenhuma razão para que a ação de Deus produza efeitos diferentes” (Ibidem, p.23,24).

            Avicena, entretanto, explica o problema da multiplicidade de outra forma:

“Consideremos a primeira Inteligência pura como o primeiro causado por Deus. Enquanto deriva do primeiro Ser, ela é necessária; entretanto, considerada em si mesma, ela é apenas possível, pois ninguém seria capaz de obrigar o Primeiro a causá-la. Desde a produção inicial do primeiro causado, vemos produzir-se uma dualidade sem que a causa primeira, no entanto, seja de algum modo afetada por ela. E essa primeira dualidade logo fará surgir um terceiro termo. A primeira Inteligência, com efeito, conhece necessariamente o primeiro Ser; mas ela se conhece também como necessária por ele;  e ela se conhece, enfim,  como possível por si mesma; portanto, na realidade, é a uma tríade de atos que estamos relacionados desde a origem das coisas, ainda que a essência produzida por Deus seja puramente uma em tudo o que ela conserva [ou recebe] do princípio de seu ser. Tendo compreendido isso, o mais difícil foi feito, pois já temos com que engendrar a primeira esfera, e por aí também todas as outras, até chegar àquela que contém a Terra. O ato pelo qual a primeira Inteligência conhece o primeiro Ser engendra a Inteligência que lhe é imediatamente inferior; o ato mediante o qual ela se conhece como necessária em virtude do primeiro Ser engendra a alma da esfera última; o ato pelo qual ela se conhece como possível em si mesma engendra o corpo dessa mesma esfera. A segunda Inteligência, que é, portanto a Inteligência de Saturno, engendra por sua vez a terceira, ou a Inteligência de Júpiter, pelo ato no qual ela conhece o primeiro Ser; enquanto se conhece como necessária, ela engendra a alma da esfera de Saturno; enquanto se conhece como possível, ela engendra os corpos dessa esfera, e assim por diante, até chegar à Inteligência Agente, a cuja influência estamos diretamente submetidos.” (AVICENA, apud GILSON, 2010, p. 37, 38).

            Como conseqüência dessa explicação, decorre-se, imediatamente, a ideia da impossibilidade de um intelecto agente que seja próprio do homem. Em seu lugar existiria uma inteligência agente externa e comum a todos os seres humanos. Para São Tomás de Aquino, isso era inadmissível.

“Recusar a cada indivíduo um intelecto agente que lhe seja próprio é o mesmo que não atribuir à alma racional o princípio ativo sem o qual ela não poderia cumprir sua operação natural. Consequentemente, admitir somente um intelecto agente para todos os homens, quer seja Deus, quer uma Inteligência separada, é supor que Deus criou uma alma racional incapaz de fazer uso da razão.” (Ibidem, p.109).

É importante ressaltar, no entanto, que, devido à forma como a filosofia agostiniana estava associada à ideias que nunca vieram de Agostinho, possivelmente Tomás acreditasse não estar rejeitando o agostinianismo, mas simplesmente libertando-o das influências muçulmanas. Nesse sentido, Gilson afirma que:

“A identificação do Deus iluminador de Santo Agostinho com o intelecto agente separado, que se extraía de Aristóteles interpretado por Avicena, falseava o pensamento de Santo Agostinho; São Tomás pode legitimamente ter acreditado simplesmente restabelecer a verdade ao separar Santo Agostinho dessa vizinhança comprometedora. Com efeito, qualquer que seja a interpretação última da iluminação agostiniana sobre a qual nos detivermos, quer a julguemos conciliável com a gnoseologia de Aristóteles quer não, um ponto permanece fora de contestação: Santo Agostinho jamais ensinou que Deus fosse nosso intelecto agente e ninguém pode saber que posição ele próprio teria adotado diante de tal problema; portanto, São Tomás está historicamente autorizado a negar que a iluminação agostiniana se confunda realmente com o agostinismo avicenizante” (Ibidem, p. 115).

V – Iluminação divina e luz natural: aproximações e diferenças:

            Como já pôde ser observado até aqui, as filosofias de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, apesar de bastante diferentes, têm como ponto de contato o lugar de destaque dado à revelação, reservando-lhe uma autoridade superior à da razão. As diferenças começam a aparecer ao longo do caminho, à medida que os pensadores analisam a forma como o conhecimento humano se processa.
            Apesar da superioridade conferida à revelação por ambos, seus pontos de partida são fundamentalmente diferentes, o que, obviamente, os leva a conclusões distintas. Enquanto Agostinho concebe que o pecado teria atingido o homem em sua integralidade, gerando, inclusive, efeitos noéticos, Tomás entende que a razão teria preservado sua luz natural. Carvalho (2006)  [6] observa que

“a teologia escolástica mantinha uma compreensão deficiente da queda; segundo ela, no estado de perfeição original, o homem trazia uma natureza boa e, além disso, um dom sobrenatural. Na queda o homem teria perdido o dom sobrenatural da graça, mas sua natureza teria permanecido capaz. Assim, a redenção não era vista, essencialmente, como uma recuperação da natureza, mas como um retorno da graça original; uma espécie de donnum supperaditum (dádiva acrescida ou superposta). Desse modo devemos entender o famoso ditado escolástico: ‘Gratiam naturam non tollit, sed perfict’ (a graça não cancela a natureza, mas a aperfeiçoa).” (CARVALHO, 2006, p. 133. 134).

            Dessa forma,

“A interpretação tomista da relação entre razão e fé estava, pois, profundamente ligada a uma visão sobre a queda e a redenção que não fazia justiça ao motivo-base bíblico [7]. Nessa visão não há um ponto de contato real entre a esfera ‘natural’ e a esfera ‘sobrenatural’, que é a esfera da graça. A esfera da natureza é vista como uma esfera autônoma. É verdade que, na síntese tomista, a razão natural não deveria contradizer explicitamente as verdades sobrenaturais da doutrina da igreja, baseadas na revelação. Entretanto, tratava-se de uma mera acomodação exterior, uma vez que os pressupostos religiosos fundamentais já haviam sido compreendidos.” (Ibidem, p. 134).

            Malebranche, de forma mais dura, embora também não tenha apresentado uma solução adequada à questão, identifica e critica o problema de se atribuir à filosofia tomista um caráter genuinamente cristão.

“De fato, o que deveria ser uma filosofia cristã digna desse nome? Primeiramente e antes de mais nada, a exaltação da glória e da potência de Deus. Ele é o Ser e o Eficiente, no sentido de que tudo o que é só é por ele e tudo o que se faz é feito por ele. O que são, ao contrário, o aristotelismo e o tomismo? São filosofias da natureza, isto é, sistemas nos quais se supõem existem formas substanciais, ou naturezas, que são como entidades dotadas de eficiência e produtoras de todos os efeitos que atribuímos à atividade dos corpos. Que uma filosofia pagã, como a de Aristóteles, atribua aos seres finitos essa subsistência, essa independência e essa eficácia, nada mais natural. Que ela faça depender da existência e da ação dos corpos sobre nossa alma o conhecimento que temos dela, é evidente.  Mas um cristão deveria ser mais inspirado.” (GILSON, 2006, p. 20) [8].

            Santo Agostinho, por sua vez, apesar de conservar o caráter cristão em sua filosofia, rejeitando a autonomia religiosa do pensamento teórico, identificou erroneamente a teologia com a filosofia cristã, estabelecendo uma relação de subserviência [9], o que lhe custou a acusação de não ter produzido uma filosofia de fato.
           

VI – Conclusão:

            A disputa entre as duas correntes de pensamento não se resolveu na Idade Média e, na verdade, perdura até os dias de hoje. É fundamental, assim, observar o impacto que esses dois autores tiveram sobre as filosofias que se seguiram. E, nesse sentido, o tomismo teve um peso indiscutivelmente superior. Schaeffer (2002) [10] afirma que a visão tomista

“incompleta da queda narrada na Bíblia implicou grandes dificuldades subseqüentes. A partir disso, com o passar do tempo, o intelecto humano passou a ser visto como autônomo. Esta esfera de crescente autonomia gerada por Tomás de Aquino expressa-se de várias formas. Um dos resultados, por exemplo, manifestou-se pelo desenvolvimento da teologia natural. De acordo com esta visão, a teologia natural é uma teologia que poderia ser praticada independentemente das Escrituras. Tomás de Aquino certamente tinha a expectativa de uma unidade e defenderia uma correlação entre a teologia natural e as Escrituras. Mas o ponto mais importante que se seguiu foi o fato de que um campo realmente autônomo foi criado. (SCHAEFFER, 2002, p.23).

            Do mesmo modo, Carvalho (2006) entende que:

“O motivo-base natureza/graça continha, em seu interior, uma dialética insolúvel. Essa dialética poderia levar à negação de um dos termos: a natureza poderia ‘devorar’ a graça, com uma total negação do evangelho, ou a ênfase na graça poderia levar ao desprezo pela natureza e à fixação na busca mística da comunhão sobrenatural com Deus; ou a um equilíbrio instável, no qual todos os pontos de contato entre a natureza e a graça fossem rompidos, de tal modo que as duas esferas se tornassem inteiramente independentes uma da outra. Segundo Dooyeweerd, a única força capaz de manter essa síntese aparente foi a autoridade doutrinal da igreja, sendo que constantemente a síntese foi negada por ‘heresias’.” (CARVALHO, 2006, p. 135).

            Foi só uma questão de tempo para que a “Grande Síntese” medieval começasse a se desfazer. E, de fato, não demorou muito para que o nominalismo de Guilherme de Occam aparecesse e tivesse início um novo período do pensamento ocidental: a modernidade. Com isso,

“O futuro apresentava apenas duas opções: alguém poderia retornar ao motivo-base escriturístico da religião cristã ou, em linha com o novo motivo na natureza separada da fé da igreja, estabelecer uma visão moderna da vida concentrada na religião da personalidade humana. O primeiro caminho levou à Reforma; o segundo levou ao moderno humanismo. Em ambos os movimentos, o motivo católico romano da natureza/graça continuaram a ser sentidos ao longo do tempo.” (DOOYEWWERD, 1979, apud CARVALHO, 2006, p. 136).

VII – Bibliografia:

ADRIANO, José. A razoabilidade de fé: São Tomás e a Escolástica. Disponível em <www.arautos.org/imprimir/5843.html>. Acesso em 02 abril 2011.
CARVALHO, G. V. R. . O Dualismo Natureza/Graça e a Influência do Humanismo Secular no Pensamento Social Cristão. In: CARVALHO, G. V. R. (Org.); LEITE, Cláudio A. C. (Org.); CUNHA, M. J. S. (Org.). Cosmovisão Cristã e Transformação: Espiritualidade, Razão e Ordem Social. Viçosa: Ultimato, 2006.
GILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. [tradução Eduardo Brandão] - São Paulo: Martins Fontes, 2001.
______________. O espírito da filosofia na idade média. [tradução Eduardo Brandão] - São Paulo: Martins Fontes, 2006.
______________. Por que São Tomás criticou Santo Agostinho / Avicena e o ponto de partida de Duns Escoto / [tradução Tiago José Risi Leme]. – São Paulo, Paulus 2010. – (Coleção filosofia)
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Fides et Ratio: sobre as relações entre Fé e
Razão. Vaticano, 14 de setembro de 1998.
SANTOS, Bento Silva. Agostinho de Hipona: razão e fé no limiar do pensamento medieval. Disponível em <www.bentosilvasantos.com>. Acesso em 02 abril 2011.
SCHAEFFER, Francis. A morte da razão. [tradução Gabrielle Gregersen] – São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
           



[1] GILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. [tradução Eduardo Brandão] - São Paulo: Martins Fontes, 2001.

[2] SANTOS, Bento Silva. Agostinho de Hipona: razão e fé no limiar do pensamento medieval. Disponível em <www.bentosilvasantos.com>. Acesso em 02 abril 2011.

[3] JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Fides et Ratio: sobre as relações entre Fé e
Razão. Vaticano, 14 de setembro de 1998.
[4] ADRIANO, José. A razoabilidade de fé: São Tomás e a Escolástica. Disponível em <www.arautos.org/imprimir/5843.html>. Acesso em 02 abril 2011.

[5] GILSON, Etienne. Por que São Tomás criticou Santo Agostinho / Avicena e o ponto de partida de Duns Escoto / [tradução Tiago José Risi Leme] – São Paulo, Paulus 2010. – (Coleção filosofia)

[6] CARVALHO, G. V. R. . O Dualismo Natureza/Graça e a Influência do Humanismo Secular no Pensamento Social Cristão. In: CARVALHO, G. V. R. (Org.); LEITE, Cláudio A. C. (Org.); CUNHA, M. J. S. (Org.). Cosmovisão Cristã e Transformação: Espiritualidade, Razão e Ordem Social. Viçosa: Ultimato, 2006.

[7] O conceito utilizado aqui é do filósofo e jurista holandês Herman Dooyeweerd. Segundo ele, “o princípio motivador e controlador de uma cultura não é, primariamente, a política, a economia, ou as idéias, mas a religião. Cada comunidade espiritual é unida por um espírito comum, [...] que controla ativamente a vida dessa comunidade. Dooyeweerd chamou esse poder de motivo–base religioso (religious ground-motive) da cultura. Os motivos-bases são as forças motivadoras que dominaram o desenvolvimento da cultura, da ciência e da filosofia ocidental. Cada um deles estabeleceu uma comunidade espiritual entre aqueles que o iniciaram, e permaneceu oculto como o princípio espiritual subjacente de toda a produção cultural. Nesse sentido, os pensadores ocidentais muitas vezes foram dominados por um determinado motivo-base sem nem mesmo terem consciência disso; na verdade, o sentido religioso dos motivos-bases está além do alcance desses pensadores justamente porque toda explicação histórica, em si mesma, pressupõe um ponto de partida central e suprateórico que é dado por um motivo-base religioso.” (Cf. CARVALHO, G. V. R. . Op. Cit., p. 125)

[8] GILSON, Etienne. O espírito da filosofia na idade média. [tradução Eduardo Brandão] - São Paulo: Martins Fontes, 2006.

[9] Cf. CARVALHO, G. V. R. . Op. Cit., p. 133.

[10] SCHAEFFER, Francis. A morte da razão. [tradução Gabrielle Gregersen] – São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

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