A
atual distinção entre filosofia e ciência nem sempre foi uma realidade. Durante
toda a Antiguidade e Idade Média, os termos poderiam até mesmo ser entendidos
como sinônimos. É somente na Modernidade, com a Revolução Científica do século
XVII, que esse panorama começa a se modificar.
Nesse
contexto, tanto Galileu, quanto Descartes têm importância fundamental no
processo. Seus trabalhos procuraram estabelecer métodos, conceitos e objetos de
estudo a partir da experimentação e do modelo da linguagem matemática. A grande
busca era pela aquisição de um conhecimento objetivo adquirido através da
observação das características quantitativas dos objetos. Ficava de fora,
portanto, qualquer referência à subjetividade e aos aspectos qualitativos da
realidade. Desde então, fazer ciência passou a significar a perseguição de um
ideal de objetividade característico da matemática, não da filosofia.
Entretanto,
mesmo após a Revolução Científica, é comum encontrar no pensamento de filósofos
modernos, como Kant e Hegel, a identificação entre filosofia e ciência. É
somente no século XIX e início do século XX, com o surgimento das Ciências
Humanas, que a separação se dá de forma mais clara. O positivismo, ao transpor
para essas novas ciências o ideal de inteligibilidade em que se assentavam as
Ciências da Natureza, teve importância fundamental nesse processo. A partir
desse momento, até mesmo o homem, objeto que havia restado à filosofia após a
Revolução Científica, passou a ser analisado nos termos do rigor da
cientificidade.
Assim,
o ideal de ciência moderno se desenvolve numa tentativa de livrar o
conhecimento de influências subjetivas, tornando-o neutro. Embora no meio
acadêmico pouco se acredite hoje em dia na possibilidade de um conhecimento
verdadeiramente neutro – visto que a ciência é feita por homens e, portanto,
suscetível a influências sociais, culturais, políticas, econômicas, etc. –, é
possível observar com facilidade a difusão dessa ideia no senso comum.
Geralmente, a caracterização de algo como científico
tem como objetivo provar a veracidade do argumento.
Apesar
disso, ironicamente, o objetivo central da ciência moderna nunca foi a busca da
verdade, mas o entendimento da realidade. A verdade científica tem como
característica intrínseca a provisoriedade, ou seja: uma hipótese deve ser
considerada verdadeira, desde que fundamentada, até que outra hipótese
demonstre sua falsidade.
Dessa forma, é importante observar que o
avanço tecnológico acabou por criar uma fé dogmática na ciência, constituindo
uma contradição dentro da sua própria base de sustentação, tida como
provisória. Cabe à filosofia, atualmente, expor e questionar esses dogmas,
além, é claro, de propor alternativas aos tradicionais modelos de ciência.
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