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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Drogas e subjetividade


“Os usuário regulares aprendem a experimentar o ‘barato’, e esse processo de aprendizagem teria consequências fisiológicas. Em outras palavras, os níveis subjetivo e fisiológico estão estreitamente inter-relacionados, e os usuários, no processo de alcançar o ‘barato’, produzem transformações no seu próprio metabolismo. Essa noção está próxima da reação traumática clássica no indivíduo, onde ele sofre subjetivamente  medo, e esse medo se traduz, no nível fisiológico, em descarga de adrenalina no seu fluxo sanguíneo. Medo é um processo socialmente definido, onde o estado subjetivo do indivíduo afeta o seu metabolismo e, mais ainda, o medo, como ‘barato’, é experimentado pelo indivíduo como um estado subjetivo que é automaticamente substanciado no nível corpóreo. Mas isso, com certeza, é apenas metade do processo. As drogas, por sua própria natureza, afetam o metabolismo do indivíduo, mas os modos pelos quais o indivíduo interpreta essas mudanças no seu organismo relacionam-se a suas próprias noções subjetivas do que está acontecendo com ele. O que estou afirmando é que ocorre, no uso de drogas, um processo bidirecional: a droga altera o metabolismo do indivíduo, ele interpreta essas mudanças orgânicas em experiências subjetivas, reage de acordo com essas experiências e transforma o metabolismo já alterado. Em resumo, a experiência de drogas só pode ser compreendida em termos de uma dialética constante entre o estado subjetivo do indivíduo e os efeitos psicotrópicos objetivos da droga.” 

Jock Young (The drugtakers: the social meaning of drug use)

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