“Os usuário regulares
aprendem a experimentar o ‘barato’, e esse processo de aprendizagem teria
consequências fisiológicas. Em outras palavras, os níveis subjetivo e
fisiológico estão estreitamente inter-relacionados, e os usuários, no processo
de alcançar o ‘barato’, produzem transformações no seu próprio metabolismo.
Essa noção está próxima da reação traumática clássica no indivíduo, onde ele
sofre subjetivamente medo, e esse medo
se traduz, no nível fisiológico, em descarga de adrenalina no seu fluxo
sanguíneo. Medo é um processo socialmente definido, onde o estado subjetivo do
indivíduo afeta o seu metabolismo e, mais ainda, o medo, como ‘barato’, é
experimentado pelo indivíduo como um estado subjetivo que é automaticamente
substanciado no nível corpóreo. Mas isso, com certeza, é apenas metade do
processo. As drogas, por sua própria natureza, afetam o metabolismo do
indivíduo, mas os modos pelos quais o indivíduo interpreta essas mudanças no seu
organismo relacionam-se a suas próprias noções subjetivas do que está
acontecendo com ele. O que estou afirmando é que ocorre, no uso de drogas, um
processo bidirecional: a droga altera o metabolismo do indivíduo, ele
interpreta essas mudanças orgânicas em experiências subjetivas, reage de acordo
com essas experiências e transforma o metabolismo já alterado. Em resumo, a
experiência de drogas só pode ser compreendida em termos de uma dialética
constante entre o estado subjetivo do indivíduo e os efeitos psicotrópicos
objetivos da droga.”
Jock Young (The drugtakers: the social meaning of drug use)
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