Os sofistas, a partir da reflexão sobre
a linguagem como potência eficaz, tiveram uma importância fundamental no
desenvolvimento da retórica. Com eles, a filosofia, pela primeira vez, apresentou
uma abordagem cuja ênfase se encontrava sobre o discurso. Não é à toa que até
hoje são considerados os grandes precursores da virada linguística do século
XIX e da atual filosofia da linguagem.
Observando o Górgias, de Platão, é possível perceber que a retórica sofística
encontra-se assentada sobre os pressupostos de uma epistemologia cética e de
uma ontologia niilista. Górgias não cria na possibilidade de acesso do sujeito
à realidade e, assim como os outros sofistas, entendia que a única condição
necessária para o conhecimento seria o domínio dos recursos da linguagem. Dessa
forma, seria somente o logos – o discurso – o critério capaz de instituir a
objetividade e a universalidade.
É importante observar que o discurso
sofístico não é concebido como representação do real, mas meramente como
desempenho, devendo ser persuasivo, eficiente e sugestivo. Para Platão, essa
recusa da objetividade torna-se um grande problema à medida que o discurso
persuasivo passa a ser usado como controle não só das coisas – fazendo delas
efeitos do discurso –, como das pessoas – incutindo-lhes a convicção do
enunciado. Assim, a aceitação desses pressupostos ontológicos e epistemológicos
acabaria por conduzir o filósofo tanto ao irracionalismo, quanto ao imoralismo.
Percebendo a complexidade da questão,
Platão, na tentativa de restituir os padrões de racionalidade e objetividade, opta
por investigar e explicitar as consequências éticas, epistemológicas e
ontológicas das teorias sofistas, procurando reestruturar os domínios do saber
e do poder no estudo da linguagem. Com isso, ele não só estabelece a distinção
qualitativa entre doxa (opinião) e episteme (ciência), como entende que a
persuasão característica da retórica filosófica deve atender a um telos superior – a justiça – e estar
limitada à atividade política do filósofo.
Dessa forma, Platão consegue não só
responder aos argumentos sofistas, mas desenvolver sua própria filosofia a
partir desses questionamentos. Afastando-se da retórica vazia e descomprometida
dos sofistas, ele apresenta outra retórica que tem relação direta com o
problema do conhecimento, constituindo-se em instrumento adequado ao seu
objetivo maior: o conhecimento das verdades filosóficas.
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