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segunda-feira, 18 de junho de 2012

A sofística e o argumento parmenídico


Baseados na teoria parmenídica do ser absoluto, os sofistas se defenderam da acusação de falsidade do seu discurso apoiados na afirmação de Parmênides de que “o não-ser não é”. Para eles, já que o não-ser não poderia ser expresso e nem pensado, o que é dito e pensado deveria ser necessariamente verdadeiro.
Transpondo a univocidade do ser de Parmênides para o nível do discurso, acabaram por “tornar verdadeiro” não só todo pensamento, mas também toda a realidade sensível. Assim, partindo do ser absoluto de Parmênides, que caracterizou o mundo sensível como aparência, os sofistas desembocaram em um relativismo que afirmou ser verdadeiro tudo o que existe.
Entretanto, o que os sofistas parecem não ter percebido é que o ser, enquanto absoluto, não poderia ser dissolvido na multiplicidade do real sem que comprometesse sua unidade. Além disso, da forma como é interpretado pelos sofistas, o próprio mundo de Parmênides tornou-se impossível, visto que a verdade só poderia ser encontrada onde o absoluto se encontra, só que, ao mesmo tempo, não se admite qualquer movimento do pensamento, devendo ser este também absoluto, fixo e eterno.
A razão desses desencontros pode ser explicada através da equivocidade de sentido com que Parmênides e os sofistas se referem ao ser. Enquanto o primeiro atribui um sentido metafísico, os últimos, apoiados pela máxima “pensar e ser é o mesmo”, fazem menção ao discurso. Porém, se este ser do discurso dos sofistas fosse o mesmo ser metafísico de Parmênides, toda a multiplicidade existente no discurso seria impossível.
Nesse sentido, Platão também ofereceu contribuições importantes para o entendimento da questão. Para ele, pra quem os sofistas eram ilusionistas da verdade, negar a possibilidade do discurso falso seria rejeitar todo seu projeto filosófico. Para resolver a questão, primeiramente, foi preciso que, de alguma forma, o não-ser fosse estabelecido como realidade entre as Formas supremas, possibilitando o movimento do pensar dialético, para que, somente a partir daí, pudesse ser demonstrada a possibilidade do discurso falso.
É importante lembrar que, para Platão, o inteligível é o mundo perfeito das ideias. Logo, foi necessário provar a possibilidade do discurso falso, obviamente, sem atribuir ao não-ser um eidos de falsidade, o que destruiria a perfeição das Formas; e sem relacionar a falsidade ao mundo sensível, visto que, apesar de resolver o problema da sofística, acabaria por negar a correspondência entre o pensamento e as Ideias, ponto central de sua dialética.

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