Baseados na teoria parmenídica do ser
absoluto, os sofistas se defenderam da acusação de falsidade do seu discurso
apoiados na afirmação de Parmênides de que “o não-ser não é”. Para eles, já que
o não-ser não poderia ser expresso e nem pensado, o que é dito e pensado deveria
ser necessariamente verdadeiro.
Transpondo a univocidade do ser de
Parmênides para o nível do discurso, acabaram por “tornar verdadeiro” não só
todo pensamento, mas também toda a realidade sensível. Assim, partindo do ser
absoluto de Parmênides, que caracterizou o mundo sensível como aparência, os
sofistas desembocaram em um relativismo que afirmou ser verdadeiro tudo o que
existe.
Entretanto, o que os sofistas parecem
não ter percebido é que o ser, enquanto absoluto, não poderia ser dissolvido na
multiplicidade do real sem que comprometesse sua unidade. Além disso, da forma
como é interpretado pelos sofistas, o próprio mundo de Parmênides tornou-se
impossível, visto que a verdade só poderia ser encontrada onde o absoluto se
encontra, só que, ao mesmo tempo, não se admite qualquer movimento do
pensamento, devendo ser este também absoluto, fixo e eterno.
A razão desses desencontros pode ser explicada
através da equivocidade de sentido com que Parmênides e os sofistas se referem
ao ser. Enquanto o primeiro atribui um sentido metafísico, os últimos, apoiados
pela máxima “pensar e ser é o mesmo”, fazem menção ao discurso. Porém, se este
ser do discurso dos sofistas fosse o mesmo ser metafísico de Parmênides, toda a
multiplicidade existente no discurso seria impossível.
Nesse sentido, Platão também ofereceu
contribuições importantes para o entendimento da questão. Para ele, pra quem os
sofistas eram ilusionistas da verdade, negar a possibilidade do discurso falso
seria rejeitar todo seu projeto filosófico. Para resolver a questão,
primeiramente, foi preciso que, de alguma forma, o não-ser fosse estabelecido
como realidade entre as Formas supremas, possibilitando o movimento do pensar
dialético, para que, somente a partir daí, pudesse ser demonstrada a
possibilidade do discurso falso.
É importante lembrar que, para Platão, o
inteligível é o mundo perfeito das ideias. Logo, foi necessário provar a
possibilidade do discurso falso, obviamente, sem atribuir ao não-ser um eidos de falsidade, o que destruiria a
perfeição das Formas; e sem relacionar a falsidade ao mundo sensível, visto que,
apesar de resolver o problema da sofística, acabaria por negar a
correspondência entre o pensamento e as Ideias, ponto central de sua dialética.
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