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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Parmênides e a virada ontológica


Parmênides, geralmente, é considerado pela tradição filosófica o grande precursor da ontologia e da lógica. Foi sua filosofia a primeira a afirmar que o mundo percebido pelos sentidos é um mundo ilusório, constituindo-se em meras aparências sobre as quais o homem formula opiniões. Nasce com ele, portanto, a clássica distinção entre aparência e verdade que permeará, de alguma forma, praticamente toda a história do pensamento ocidental a partir daí.
Em seu pensamento, o homem que se lança na via da verdade deveria deixar-se conduzir apenas pela razão. Pensar não é o mesmo que perceber. Enquanto o último estaria ligado à observação das aparências mutáveis, o primeiro seria a contemplação da realidade como idêntica a si mesmo ou, em outras palavras, a contemplação do próprio ser.
A ideia central do poema parmenídico é a de que o ser é e o não-ser não é. Além disso, Parmênides afirma que o que é não pode deixar de ser, fundando o princípio da imutabilidade e excluindo do conceito de ser toda possibilidade de mudança, variação, geração ou corrupção.
Para ele, os atributos das coisas que são são revelados como uma necessidade absoluta tanto do ser, quanto do pensamento. Assim, Parmênides acaba por identificar o ser tanto com o pensamento quanto com o discurso. O que é pode, necessariamente, ser dito e pensado, enquanto o que não é não os podem ser.
É importante perceber, entretanto, que o não-ser parmenídico não tem um caráter positivo, mas é, antes, uma expressão lógica negativa do ser. Não pode ser dito, nem pensado. Por isso, tudo de que o pensamento ou o discurso se ocupam é. Além disso, Parmênides entende que tudo o que pode ser pensado pode ser dito, visto que não há pensamento racional fora da linguagem que não seja discursivo. Ambos obedeceriam às mesmas regras, fazendo com que assim como o homem só pode pensar o que é, também só possa enunciar o que é.
Dessa forma, Parmênides, além de afirmar a univocidade do ser, defende que o pensamento verdadeiro não admite multiplicidade ou pluralidade, negando, portanto, qualquer possibilidade de uma cosmologia. Isso porque no pensamento do Eleata nem mesmo o cosmos é, mas apenas o ser. Assim, seu pensamento pode ser considerado, de fato, um marco na história da filosofia, tendo representado uma virada de uma concepção mais cosmológica para uma concepção mais ontológica da filosofia.

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