Todavia, se nada falei, muito observei. E - não posso negar - muito me assustei. Mantendo certo distanciamento, pude perceber com uma clareza muito límpida que o sistema eleitoral brasileiro não é apenas algo muito perverso de um ponto de vista ético e político. Ele é diabólico. E não se enganem. Não digo isso com nenhuma conotação mística. Falo de um ponto de vista bem pouco metafísico, levando em consideração apenas o significado mais radical que se pode extrair do vocábulo grego diabolos: aquele que divide, que separa, o caluniador.
Como expectador, conscientemente alienado de todo esse pathos eleitoreiro e daquilo que o alimenta, tive a oportunidade de assistir de camarote o espetáculo mais bizarro da Terra: o espetáculo de nós mesmos! Iludidos e ludibriados por nossa própria arrogância e insensatez, disfarçadas em vestes ideológicas, enredamo-nos num jogo estruturalmente sórdido e servimos de mola mestra não apenas para a manutenção de um sistema político antipolítico, mas, antes de tudo, para a conservação de uma maneira nada saudável de enxergar a vida e suas relações. Uma maneira, diga-se de passagem, biofóbica!
Mas, também, creio que, pela primeira vez, pude compreender um pouco mais profundamente a resposta de Jesus àqueles que, querendo testá-lo questionaram-no à respeito do pagamento de impostos, colocando em xeque o tipo de relação que se deve ter para com as estruturas desse mundo que operam sob suas leis cármicas. Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus nunca teve nada a ver com uma visão fragmentada de mundo, onde se privilegia o aspecto sagrado da realidade em detrimento de um suposto mundo profano. Cristos - ou Budas - não conhecem essa divisão, são seres integrados e realizados. Porém, não se pode negar que aquele que conhece o Reino de Deus e em sua lei é iniciado - a lei do Amor -, dificilmente, dispor-se-á novamente a entrar em qualquer espécie de questão com César. Não faz mais sentido. César que brinque sozinho de ser rei! Afinal, o filho do Amor sabe que, por mais cruéis que possam ser as leis do Império, nenhuma delas jamais será capaz de subjugar o ser que, na consciência crística, encontrou sua inabalável liberdade.
Portanto, penso que o que o mestre diz, em outras palavras é o seguinte: concentrem suas energias no que vale à pena, no que é elevado. Uma vez mais, sem espiritualismos! Não posso compartilhar de nenhuma concepção que aborde a realidade de maneira fugidia, induzindo-nos a abandonar ou domar nossas paixões. Sou filho do fogo e creio que paixão tem mais é que queimar! Porém, vale lembrar que nelas habita tanto o poder da vida quanto da morte. Por isso, não pouco importante é aprender a direcioná-las para que, de maneira saudável, possam nos conduzir não para a destruição e morte do ser, mas para renovação e vida eterna. Os frutos continuam sendo a evidência imbatível que nos revela se estamos ou não trilhando o caminho da paz e da bem aventurança.
Assim, em termos bem práticos, senti que essa dieta eleitoral fez-me um bem danado. Votei em quem quis votar, sem ter que me defender e justificar de nada; diverti-me o quanto pude com nossa incurável capacidade de criar argumentos - dos mais toscos aos mais sofisticados - que, de alguma forma, legitimam e justificam crenças que, evidentemente, têm origem em regiões muito mais profundas, onde nossa limitada razão jamais chegará; e, acima de tudo, consegui poupar a mim e aos outros da porção de medo que em mim habita e que, pelo menos dessa vez, não conseguiu acordar para vestir-se de ódio ideológico e botar seu bloco na rua. Acho que, finalmente, estou aprendendo um pouquinho de subversão...
quando crescer quero ser igual a voce.
ResponderExcluirhahaha!
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