A boca fala do que o coração tá cheio

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Bravura existencial




Existir é uma atitude que merece respeito
Existir nesse planeta
Um ato de bravura
Permitir-se nessas terras caminhar
Prova de abertura

O ser que aqui se presta a vir
Sabendo o que o espera
Chama o destino para si
E caminhando em liberdade
Assume seu caminho
Se tornando responsável
Por toda uma era

Lugar de expiação
De cardos e espinhos
Veredas pedregosas
Que exigem atenção
Um único deslize
Sai do prumo a direção

Terra de receber
E acolher com gratidão
O que no caminho se apresenta
Sabendo em todo tempo
Que Deus fez tudo bom
Em constante evolução

Tempo de oportunidade
De refazer as ligações
Resgatar a natureza
Mergulhar na unidade
E caminhando com leveza
Respirar conexão



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Amor-al


No início era um
Até que veio a moral
Criando certo e errado
Tornando dois o integral

Senda de ilusão
Que distancia o ser de Deus
Lançando o peregrino
Na angústia da bifurcação

O amor não é assim
Lei que funda o mundo
Regendo mares e planetas
Florestas e cometas
Reúne todos os fenômenos
Num só caldo de existência

O amor é simples
O amor é graça
Sustentáculo da vida
Caro em seu valor
Barato no seu preço
É energia doadora
Desconhecendo tanto a balança
Quanto a calculadora

Substância amoral
Que num universo de ordem cósmica
Não conhece bem e mal
O amor é
Seu caminho de contentamento
Não demanda complemento

Por isso quando amamos
Gratitude invade o coração
E a divindade relampeja em nossa alma
Implodindo as grosseiras estruturas
De tão rude condição


sábado, 26 de julho de 2014

Morada do mistério


A simplicidade é a morada do mistério
No trivial habita a sabedoria
Em nada de mais reside o conhecimento
No pouco, abundância de poder

No paradoxo cósmico
Que faz girar esse planeta
Mais já não encontra vez
Menos é a pedra preciosa
Nesse sistema de energia
Sob as leis da economia

Terra de fluidos e fluxos
Acúmulo não suporta
Delicados canais
Num monturo se transformam

Escolho a contramão
Vou seguindo rumo ao nada
E emancipado das demandas
Firmo minha tenda
Junto ao fogo criador
Nas graças do puro amor

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O caminho da serpente


Silêncio profundo
Prudência sinuosa
A serpente solitária
Avança sorrateira

Chama acesa no olhar
Corpo junto ao pó
Observa o derredor
Faz da terra seu altar

Mistério traz na boca
Onde guarda seu poder
O veneno inoculado
Aniquila ou faz viver

Tem na morte companheira
Que renova os horizontes
Adornando seu chocalho
A cada pele que se vai

No coração da mata virgem
Segue seu instinto
Desbrava cada canto
Obedecendo ao seu destino





quinta-feira, 10 de julho de 2014

Tecno-feitiço


A lua brilha
Linda no céu
A moça brilha 
Linda na terra

Diante do espetáculo
O moço permanece estacionado
Sorrindo embasbacado
Fito numa tela

Como escravo digital
Pensa ter ganhado o mundo
Mas seduzido pela máquina
Caiu em seu feitiço

E assim como descarrega
A bateria do aparelho que carrega
Ali se esvai a sua alma
Sugada ao apertar de cada tecla

Restam agora apenas
Além dos dedos ansiosos
Os escombros sombrios
Do ser que se aliena

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Livrai-me do caminho certo!




De dúvida
Alimento minhas certezas
E assim prossigo aberto
Livrai-me, ó Deus
Da armadilha do caminho certo

Nesse mundo de ilusão
Perfeição já não almejo
Vou andando com brandura
Desviando das agruras
Cultivando bom molejo

Aprendendo em todo tempo
A cultivar discernimento
Certo apenas de que a vida
Acontece mesmo
Na inteireza do momento

Instante único
Recorte de eternidade
Que faz da existência
Não apenas aparência
Mas consciência e unidade

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Poesia

Num mundo obcecado pela razão
E tarado por significados
A poesia é o lugar
Onde a alma encontra abrigo
Para o que nem sempre
Faz assim tanto sentido

Viva essa liberdade!
Viva a poesia!
Vivam todos os poetas!
São eles os responsáveis
Por tornarem habitáveis
Cada canto dessa Terra

Chegou a cura da floresta


Entrei, entrei, entrei na floresta do rei
Entrei, entrei, entrei na floresta do rei

Com meu pai Oxóssi ali eu me encontrei
Com meu pai Oxóssi ali eu me encontrei

Ele vinha acompanhado de uma linda cabocla
Ele vinha acompanhado de uma linda cabocla

Foi então que eu perguntei: quem é ela, meu rei?
Foi então que eu perguntei: quem é ela meu rei?

É a cabocla Jurema que chegou para curar
É a cabocla Jurema que chegou para curar

Na sua mão esquerda eu vejo o seu arco, cruzadas nas costas carrega as suas flechas
Na sua mão esquerda eu vejo o seu arco, cruzadas nas costas carrega as suas flechas

E na mão direta vem trazendo as medicinas da floresta
E na mão direta vem trazendo as medicinas da floresta

Salve ô Jurema, ô salve, Jurema! Vem, com a tua ciência, as nossas chagas sarar
Salve ô Jurema, ô salve, Jurema! Vem, com a tua ciência, as nossas chagas sarar

Tu conheces os mistérios das folhas de Ossanha
Tu conheces os mistérios das folhas de Ossanha



terça-feira, 1 de julho de 2014

Sorrindo com a lua




Eu vou lançar minha corda à lua
E sentado lá no céu
Balançar junto às estrelas

            Lá em cima não há tristeza           
Só a imensidão
Livre de ilusão
Como pura natureza

Lá vou passar a noite
Contemplando bem distante
Nossa terra de gigantes

Ver tudo bem pequenininho
Abrigado das agruras da existência
Desfrutar do seu cuidado
À espera do astro-rei

E no raiar do novo dia
Em meio ao brilho da esperança
Vou dar as mãos à alegria

Reencontrando a gratidão
Que só a lua tem o dom
De despertar e ensinar
Com a força de seu sorriso