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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Nietzsche e o caráter trágico da existência


Se para Platão o conhecimento verdadeiro é algo pertencente à esfera das Ideias – o mundo eterno e imutável das essências – e somente alcançado pela via do intelecto, para Nietzsche, de outro modo, fortemente influenciado pela filosofia hieraclítica, o mundo constitui-se como um constante devir que não possui uma essência e nem mesmo algum sentido último.
Para Nietzsche, a vida é o resultado de uma luta de forças e se expressa no homem como uma guerra interior entre o espírito apolíneo e o dionisíaco. Enquanto o primeiro representaria a ordem, a harmonia e a racionalidade, o segundo seria o responsável pela vontade de viver espontânea e pela criatividade geradora. Dessa maneira, o homem livre – que se opõe diametralmente àquilo que Nietzsche entende como homem do rebanho –, seria, justamente, este homem que – enfatizando o aspecto dionisíaco – vive de tal maneira que afirma constantemente a vida, não se enquadrando nos valores morais socialmente construídos, mas construindo novos valores.
Nesse sentido, Nietzsche irá, obviamente, criticar com bastante força a superficialidade do modelo socrático de formação do homem, que, em nome de um ideal de racionalidade e em favor de um modelo de homem dócil, obediente e destituído de personalidade, não só abdicou da cultura, como acabou demolindo o próprio humano.
Segundo o filósofo alemão, o que a filosofia socrática fez foi eliminar da vida seu caráter trágico e – através de um processo de antropomorfização operado pelo intelecto – apoderar-se do mundo, transformando a ilusão e o disfarce em essência. Com isso, o homem não apenas abriu mão da luta pela existência, como teve a necessidade de criar uma verdade com sentido moral que lhe oferecesse uma sensação de conservação.
Dessa maneira, Nietzsche percebeu que por trás de toda busca racional da verdade existe, na realidade, um desejo de morte. Sendo a morte o oposto que dá sentido à vida, esse desejo de esgotamento da vida metamorfoseia-se em saber racional e acaba indo na direção contrária àquela que a vida persegue. É, portanto, como se o sentimento moral humano necessitasse de uma constatação de sua mentira e engano para que as forças desnorteantes da vida pudessem ser controladas e condicionadas à conservação do indivíduo e não da vida. Assim, o saber constitui-se como responsável pela perpetuação do ser e não do devir, que, por sua vez, estaria mais próximo da vida.
Dessa forma, a conclusão a que Nietzsche chega é que, enquanto o esforço do homem trágico – pautado em um pathos de superioridade que se expressa no modo afirmativo com que considera o sofrimento e suporta os terrores da existência – concentra-se em superar as condições consideradas adversas, criando outras situações e recriando valores, o homem teórico – que tem sua expressão maior em Sócrates – não sendo capaz de suportar o sofrimento imposto pela existência, acaba por criar uma espécie de atalho que serve de reparação à existência, conferindo-lhe não só uma finalidade, como, em última instância, um valor moral.


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