Se
para Platão o conhecimento verdadeiro é algo pertencente à esfera das Ideias –
o mundo eterno e imutável das essências – e somente alcançado pela via do
intelecto, para Nietzsche, de outro modo, fortemente influenciado pela
filosofia hieraclítica, o mundo constitui-se como um constante devir que não
possui uma essência e nem mesmo algum sentido último.
Para
Nietzsche, a vida é o resultado de uma luta de forças e se expressa no homem
como uma guerra interior entre o espírito apolíneo e o dionisíaco. Enquanto o
primeiro representaria a ordem, a harmonia e a racionalidade, o segundo seria o
responsável pela vontade de viver espontânea e pela criatividade geradora.
Dessa maneira, o homem livre – que se opõe diametralmente àquilo que Nietzsche
entende como homem do rebanho –, seria, justamente, este homem que –
enfatizando o aspecto dionisíaco – vive de tal maneira que afirma
constantemente a vida, não se enquadrando nos valores morais socialmente
construídos, mas construindo novos valores.
Nesse
sentido, Nietzsche irá, obviamente, criticar com bastante força a
superficialidade do modelo socrático de formação do homem, que, em nome de um
ideal de racionalidade e em favor de um modelo de homem dócil, obediente e
destituído de personalidade, não só abdicou da cultura, como acabou demolindo o
próprio humano.
Segundo
o filósofo alemão, o que a filosofia socrática fez foi eliminar da vida seu
caráter trágico e – através de um processo de antropomorfização operado pelo intelecto
– apoderar-se do mundo, transformando a ilusão e o disfarce em essência. Com
isso, o homem não apenas abriu mão da luta pela existência, como teve a
necessidade de criar uma verdade com sentido moral que lhe oferecesse uma
sensação de conservação.
Dessa
maneira, Nietzsche percebeu que por trás de toda busca racional da verdade
existe, na realidade, um desejo de morte. Sendo a morte o oposto que dá sentido
à vida, esse desejo de esgotamento da vida metamorfoseia-se em saber racional e
acaba indo na direção contrária àquela que a vida persegue. É, portanto, como
se o sentimento moral humano necessitasse de uma constatação de sua mentira e
engano para que as forças desnorteantes da vida pudessem ser controladas e
condicionadas à conservação do indivíduo e não da vida. Assim, o saber constitui-se
como responsável pela perpetuação do ser e não do devir, que, por sua vez,
estaria mais próximo da vida.
Dessa
forma, a conclusão a que Nietzsche chega é que, enquanto o esforço do homem
trágico – pautado em um pathos de
superioridade que se expressa no modo afirmativo com que considera o sofrimento
e suporta os terrores da existência – concentra-se em superar as condições
consideradas adversas, criando outras situações e recriando valores, o homem
teórico – que tem sua expressão maior em Sócrates – não sendo capaz de suportar
o sofrimento imposto pela existência, acaba por criar uma espécie de atalho que
serve de reparação à existência, conferindo-lhe não só uma finalidade, como, em
última instância, um valor moral.
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